Surdez e autismo: existe relação entre eles?

Aparelhos Auditivos

De modo geral, os bebês começam a falar as suas primeiras palavras em torno do primeiro ano de vida. Entretanto, quando isso não acontece, os pais ficam apreensivos. Afinal, atraso na fala e falta de reação a determinados estímulos sonoros são características da surdez e do autismo.

Quanto antes o problema for identificado, melhor será para a criança. Assim, as intervenções para promover melhores condições e qualidade de vida serão feitas mais rápido.

Pensando nisso, conversamos com Priscila Barbosa, fonoaudióloga da A&R Aparelhos Auditivos. Ela nos esclareceu se há relação entre surdez e autismo, deu dicas para diferenciar cada situação, explicou qual tratamento buscar em cada caso e também deu outras informações valiosas sobre o assunto. Acompanhe!

O que é autismo?

Conforme esclareceu a profissional, o nome técnico oficial é Transtorno do Espectro Autista (TEA) e trata-se de uma condição de saúde caracterizada por problemas na comunicação social e no comportamento. Desse modo, não há apenas um, mas vários tipos e subtipos desse transtorno.

Justamente por ser tão abrangente é utilizado o termo “espectro”, visto que são vários os níveis de acompanhamento necessários, desde pessoas com outras enfermidades e condições associadas até pessoas independentes, que levam uma vida completamente comum. Aliás, algumas nem sabem que são autistas, pois nunca receberam o diagnóstico.

Estima-se que há 70 milhões de autistas no mundo, sendo 2 milhões deles no Brasil. Para que se tenha dados mais precisos sobre esses números, em 2019, o Governo sancionou a Lei 13.861/2019, que inclui dados específicos sobre autismo no censo do IBGE.

O termo “Transtorno do Espectro Autista” é recente, pois passou a ser usado a partir de 2013, na nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, quando reuniu 4 diagnósticos sob o código 299.00 para TEA, a saber:

  • Autismo;
  • Transtorno Desintegrativo da Infância;
  • Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação;
  • Síndrome de Asperger.

Quais são os principais sintomas desse transtorno?

Priscila Barbosa afirma que: “os sintomas começam a surgir nos primeiros anos de vida, mas nem sempre são notados pelos pais, por apresentar sintomas leves que passam despercebidos, e isso irá impactar diretamente o tratamento”. Logo, é fundamental observar atentamente o comportamento da criança e, caso surja algum sintoma, procurar ajuda especializada.

De acordo com a fonoaudióloga, é preciso ficar atento caso a criança:

  • não interaja durante a amamentação;
  • não olhe nos olhos das pessoas;
  • tenha dificuldade para interagir com outras pessoas;
  • não atende quando chamada pelo nome;
  • mantenha comportamento repetitivo e sem finalidade, como separar objetos por cor ou tamanho;
  • passe horas e horas com determinado objeto fazendo o mesmo movimento, normalmente circular;
  • faça movimentos corporais repetitivos, muitas vezes de forma agressiva;
  • não acompanhe os acontecimentos à sua volta;
  • não mantenha comunicação verbal, ou seja, quando querem algo ou que algo aconteça, levam a pessoa pela mão até o local.

Então, no TEA há uma grande dificuldade de comunicação, seja verbal ou não, e de interação social. Ou seja, esses fatos não ocorrem de maneira natural. Ainda de acordo com a profissional, alguns sintomas podem demorar a aparecer, apesar de alguns poderem ser notados nos primeiros anos de vida.

Outros sinais podem ser percebidos mais facilmente à medida que a criança precisar exercer as suas habilidades sociais, como ao ingressar na escola. Além disso, há casos de regressão do desenvolvimento.

Isto é, a criança se desenvolve normalmente até certa idade, mas começa a regredir a partir dos 3 anos. Isso é mais perceptível na fala, pois a criança simplesmente para de falar e de reagir aos comandos.

Há alguma relação entre surdez e autismo?

Sobre essa dúvida, Priscila Barbosa afirma que: “Não diria uma relação, mas reações comuns para os dois casos”. Isso acontece porque o atraso no desenvolvimento da fala e a não resposta quando é chamado são sinais tanto da perda auditiva na infância como do Transtorno do Espectro Autista.

Assim, quando há algum desses sintomas, acende-se um alerta de que há algo prejudicando o desenvolvimento da criança.

Por que há confusão entre o autismo e a perda auditiva?

Por que há confusão entre o autismo e a perda auditiva?

A fonoaudióloga da A&R comenta que, na surdez, há dificuldade em receber e compreender as informações sonoras. Por sua vez, no Espectro Autista, há uma dificuldade na comunicação e na interação.

Assim sendo, quando uma criança com TEA é chamada pelo nome, ela pode não atender por não conseguir interagir, enquanto uma com surdez não responde simplesmente porque não ouviu. Então, há casos em que o autismo é confundido com surdez.

Como diferenciar um do outro?

A profissional esclarece que a maneira de diferenciar as situações é realizar exames diagnósticos. Portanto, alguns exames audiológicos devem ser feitos mesmo que a criança tenha passado pela triagem auditiva neonatal. Os principais exames são:

  • Audiometria comportamental ou condicionada;
  • Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE/BERA);
  • Imitanciometria.

Ela complementa que a avaliação comportamental da comunicação e interação é de extrema importância, especialmente com observação de aspectos da interação social, da comunicação não-verbal e das formas de brincar. Por exemplo: crianças com surdez geralmente criam formas não-verbais para se comunicarem e de fácil entendimento pelos pais, o que não acontece nos casos de TEA.

O que fazer diante da suspeita da surdez ou do autismo?

Priscila Barbosa lembra que um otorrinolaringologista e um neuropediatra deveriam fazer parte das consultas de rotina de toda criança e que eles devem ser consultados principalmente quando os pais notarem qualquer alteração .

Enquanto o neuropediatra avalia o desenvolvimento infantil e a maturação do sistema nervoso, o otorrinolaringologista examina e trata os problemas que podem ocorrer no ouvido, nariz, garganta e laringe.

Para complementar o resultado, também é fundamental contar com uma equipe multidisciplinar composta por fonoaudiólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional.

Quais são os cuidados com um paciente que apresenta os dois quadros?

Embora a surdez e o autismo não tenham relação, é possível que uma pessoa apresente os dois transtornos, visto que um quadro não exclui o outro. Por esse motivo, é crucial procurar os profissionais citados no tópico anterior para obter um diagnóstico precoce. Afinal, ele possibilita a estimulação com procedimentos e técnicas adequados e maior aproveitamento da alta neuroplasticidade da primeira infância.

A profissional explica que uma criança que tem TEA pode ter comportamentos que dificultem a aceitação de um aparelho auditivo, como a hipersensibilidade ou a irritabilidade com ruídos. Nesse caso, a solução é apostar em um trabalho minucioso de adaptação e acompanhamento com fonoaudiólogo, que selecionará e adaptará a prótese de acordo com a demanda da criança.

Portanto, não há necessariamente uma relação entre surdez e autismo. Apesar disso, há casos em que a pessoa apresenta os dois transtornos. De qualquer modo, é fundamental consultar um profissional logo que notar qualquer alteração no comportamento. Somente uma equipe especializada pode diagnosticar e conduzir o tratamento correto, que será feito o quanto antes, promovendo uma melhor qualidade de vida para a criança.

Ficou com alguma dúvida sobre perda auditiva ou autismo? Tem algo a acrescentar? Deixe um comentário abaixo!

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